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“Quem é esta que sobe do deserto, e vem encostada ao seu amado”? Cantares 8:5 O caminho do crente é uma subida, vindo de uma vereda escura e um mundo desolado sob o domínio do pecado e Satanás, para um mundo radiante e glorioso, onde reina a santidade, onde Deus reina supremo e eternamente. O primeiro passo que o crente dá nesta jornada para o Céu é um passo para fora do deserto de uma natureza em ruína e miséria, para as glórias de uma natureza nova e divina. Dado esse passo, ele se torna o primeiro de uma série, cada um formando uma subida diária do crente para fora de si mesmo, conduzindo-o mais e mais perto da glória perfeita e sem fim.

Volte o seu olhar, caro leitor, e repouse-o por um momento sobre o lindo quadro que Salomão nos apresenta nesse cântico inspirado. A que é comparado o mundo? A um deserto. Que objeto é visto no deserto? A Igreja de Deus. Na companhia de quem está ela? Na companhia do seu Amado. Como é ela fortalecida e sustentada no caminho? Ela está encostada ao seu Amado. E o que o escritor sagrado descreve como efeito desse espetáculo? O mesmo provoca a surpresa e admiração dos que o contemplam e os leva a exclamar: “Quem é esta que sobe do deserto e vem encostada ao seu amado”?

Voltemos nossa atenção a um aspecto particular desse quadro descritivo da Igreja de Deus: qual a postura do crente na sua subida do deserto? Encostado em Jesus. O objeto da confiança do crente é Jesus, o seu Amado. Ele é mencionado pelo apóstolo como “o Amado”, como se estivesse dizendo: “Há um só amado – de Deus, dos anjos e dos santos – Jesus”. Ele é o amado do Pai. “Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho; o meu eleito, em quem se compraz a minha alma”. “O Filho unigênito, que está no seio do Pai”. “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”.

Sim, Ele é o amado de Deus, portanto, vindo a Deus por meio dEle, é impossível que a alma crente seja rejeitada. Mas Ele é também o amado da Igreja, o amado de cada membro da Igreja. Cada um exclama: Este é o meu amado, e este é o meu amigo. E mil vezes mais amado é Ele ainda, porque é meu. A Sua pessoa é amada, unindo em Si todas as glórias da Divindade com todas as perfeições da humanidade. Os Seus feitos são amados, salvando o Seu povo de toda a culpa, condenação e domínio de seus pecados. Os Seus mandamentos são amados, porque são os ditames do Seu amor por nós e o teste do nosso amor a Ele. Oh, sim! você tem um só amado do seu coração, querido crente. “Ele é alvo e rosado, o mais distinguido entre dez mil”.

Ele é todo o universo para você; o Céu não seria Céu sem Ele; e com a Sua presença aqui, muitas vezes a terra parece o portal do Céu. Ele amou você, Ele trabalhou por você, Ele morreu por você, Ele ressurgiu por você, Ele vive e intercede na glória por você; e tudo o que é formosura nEle e gratidão em você leva sua alma a exclamar: “Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”. Tal é a companhia em que o crente vai caminhando e subindo do deserto. Houve jamais um pobre peregrino que recebesse tal honra? Houve jamais um solitário viajor em melhor companhia? Como pode você estar tristonho e só, em perigo ou em necessidade, enquanto segue em direção ao Lar na companhia dEle e encostado em Jesus?

Mas para que nos encostamos ao nosso Amado? Devemos encostar-nos em Jesus para a nossa inteira salvação. Ele “para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”; e para cada uma dessas inestimáveis bençãos, devemos depender diariamente de Cristo. Onde você pode se encostar para perdão, senão no sangue expiador de Jesus? Onde pode encostar-se para aceitação diante de Deus, senão na justiça justificadora de Jesus? Onde você pode se encostar para santificação, senão na graça de Jesus, que subjuga o pecado? Este encostar no Amado é, pois, um diário sair de nós mesmos, no grande assunto da nossa salvação, e um descansar na obra consumada de Cristo, ou melhor, em Cristo mesmo!

Devemos estar encostados em Jesus para um constante senso de perdão, para estarmos vindo perpetuamente ao sangue da aspersão, conservando assim a consciência limpa e tenra e mantendo um andar filial com Deus, próximo e amoroso. Devemos encostar-nos à plenitude do nosso Amado. Ele está cheio até à plena suficiência para todas as carências do Seu povo. É impossível ocorrer uma circunstância em nosso dia-a-dia, ou sobrevir-nos uma hora de necessidade, quando tudo vai bem, em que não possamos recorrer à infinita plenitude que o Pai depositou em Cristo para a Sua Igreja no deserto.

Então, por que buscar em nossa pobreza o que só pode ser achado em Cristo? Por que olhar para o nosso vazio, quando podemos recorrer à plenitude dEle? “A minha graça te basta” é a animadora declaração com que Jesus vem ao encontro de cada viravolta em nosso caminho, cada crise em nossa vida, cada aperto em nossa jornada. Desconfie, pois, da sua sabedoria, olhe para fora de si mesmo e encoste-se com todo o seu peso na infinita plenitude que há em Cristo. Essa postura do crente expressa a consciência que ele tem da sua própria fraqueza e de como não pode confiar em si mesmo.

Quem é mais fraco do que um filho de Deus, que vem aprendendo a lição da sua fraqueza nas regiões do seu próprio coração, e aprendendo ainda através de seus tropeços e quedas, dos seus muitos e penosos erros e das feridas e desacertos que ele mesmo se inflige? Aprendizado que finalmente o leva a sentir que toda a sua força está fora dele mesmo, em Outro. Ele tem em si a sentença de morte, para que não confie em si mesmo. “Eu sou fraco, sim, a própria fraqueza”, é a nossa linguagem. “Sou como uma cana açoitada pelo vento; eu tropeço numa pena; estremeço ao som de um eco; me assusto com a minha sombra; a menor dificuldade me embaraça; a menor tentação é capaz de me derrubar".

Como abrirei caminho entre essas poderosas hostes inimigas até ao mundo das bem-aventuranças? Encostando-se diariamente, hora a hora, momento por momento, ao seu Amado, para receber a força dEle. Cristo é o poder de Deus, e Ele é o poder dos filhos de Deus. Quem pode fortalecer as mãos cansadas e firmar os joelhos trementes, senão Jesus? Em nós não temos força, Ele dá esforço ao cansado. Quando estamos fracos em nós mesmos, então somos fortes nEle. A Sua palavra é: “O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Ou seja, o poder se mostra, resplandece e aparece na sua glória e perfeição, ao sustentar, guardar e socorrer o fraco do rebanho.

Então, encoste-se em Jesus, para obter força. Ele tem força para toda a sua fraqueza: pode fortificar a sua fé, animar a sua esperança, fortalecer a sua coragem, fortalecer a sua paciência, fortificar o seu coração para cada fardo, cada prova, cada tentação. Encoste-se nEle. Ele Se agrada em sentir a pressão do seu braço; é do agrado dEle que você ligue a sua fraqueza à Sua onipotência e lance mão da Sua graça. Encostando-se assim com todo o seu peso em Cristo, “a tua força será como os teus dias”. Toda vez que o seu coração tremer ou afundar, você irá sentir o poder dEle a cercá-lo de perto. “O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo estão os braços eternos”.

E na tristeza, onde nos encostaremos, senão ao seio do nosso Amado? Se nos encostamos ao Seu braço, para força, é igualmente nosso privilégio encostar-nos ao Seu braço para compaixão. Cristo é tanto a nossa força como é a nossa consolação. Eis ali um coração humano, um coração sem pecado, um coração terno - onde uma vez habitou a tristeza - um coração que sabe o que é padecer, que sentiu dor, sangrou, chorou.

Assim disciplinado e preparado, Jesus sabe como compadecer-Se e como socorrer os tristes e solitários. Ele Se agrada em afastar do espírito a tristeza, em ligar os quebrantados de coração, em sarar a ferida que sangra, em secar a lágrima, em “consolar todos os tristes”. Quando outros corações estão fechados à nossa dor, ou fora do nosso alcance, ou ausentes para sempre, -- quando os dardos inflamados de Satanás chovem sobre nós e o mundo se retrai, os santos se omitem, a nossa vereda é triste e desolada e todos se põem à distância da nossa dor – encostemo-nos no amor, na graça, na fidelidade, encostemo-nos nas ternas compaixões de Jesus.

O coração dEle sempre se abrirá para nos dar as boas-vindas. Será sempre um abrigo para nos receber, um lar para nos acolher. Seu amor nunca esfriará nem diminuirá em ternura; nunca se esgotará a compaixão nem deixará de pulsar a afeição desse amor. Podemos ter mil vezes entristecido esse coração e tê-lo magoado repetidamente – contudo, ao voltarmos em humilde e triste arrependimento ao seio desse amor constante, podemos deitar ali a nossa cabeça pendida, dorida e chorosa, e depositar cada fardo, derramar cada tristeza e suspirar cada soluço no coração de Jesus.

Senhor! Para quem iremos nós? A quem irei eu, senão a Ti? Essa postura de fé expressa também o progresso da alma. A igreja é vista encostada, mas não parada. Ela é fortalecida e sustentada pelo seu Senhor, mas está indo adiante. Está encostada e andando, andando e encostada. O poder que ela vai recebendo de Cristo a estimula a maior progresso. Ela obtém força através desse próximo intercâmbio com seu Senhor, e isto mais e mais a impele na subida em direção ao Céu, em direção ao Lar. Não é a postura da indolência, em que se perde de vista a responsabilidade individual ante a consciência da própria fraqueza, em que a fraqueza é desculpa para negligência e inércia de espírito.

Nós andamos assim encostados em Jesus, no desejo de avançar em santidade; de que a graça do Espírito seja despertada e estimulada em nós; de cultivar uma atitude de mente mais e mais voltada para as coisas do alto; de constantemente estar saindo do mundo e seguindo-O fora do arraial, levando o Seu opróbrio. Oh! Que conforto temos aqui, neste desejo de maior inclinação para as coisas de cima, ao saber que para tarefa tão difícil, embora tão preciosa, podemos encostar-nos à inteira suficiência da graça do nosso Senhor. E no sofrimento, que verdade mais suavizadora podemos trazer à alma do que esta? Você está doente? Encoste-se em Jesus. Nós somos queridos ao coração dEle.

Em todas as nossas dores, abatimentos, canseira e perda de forças, Jesus está conosco. Ele criou a nossa estrutura, lembra-se de que somos pó, e nos manda encostar-nos nEle e deixar a nossa doença e o que lhe diz respeito inteiramente em Suas mãos. Você está oprimido? Encoste-se em Jesus. Ele tomará conta da sua causa, deixando-a assim ao Seu cuidado, Ele “fará resplandecer a tua justiça como o sol e o teu juízo como o meio-dia”.

Você está sentindo solidão? Encoste-se em Jesus. Será doce o relacionamento e íntima a comunhão que você poderá assim manter com Ele, sentindo arder-lhe o coração, enquanto Ele conversa com você pelo caminho. É íngreme e difícil a subida? Encoste-se no seu Amado. É estreita e apertada a vereda? Encoste-se no Amado da sua alma. Dificuldades, perplexidades, aflições se enredam em volta dos seus passos? Encoste-se no Amado. Foi a morte que feriu aquele braço forte que lhe servia de apoio? Encoste-se no seu Amado. Oh! Encoste-se em Jesus em cada aperto, em cada necessidade, cada sofrimento, cada tentação.

Nada é por demais insignificante ou sem importância para se levar a Cristo. Basta saber que Ele mesmo nos autoriza a buscá-Lo. Não precisamos nos desculpar por estar recorrendo a Ele, ainda que com muita frequência. Cristo Se agrada em nos ter bem perto dEle, em ouvir a nossa voz, em sentir a confiança da nossa fé e a pressão do nosso amor. Lembre-se sempre de que há um lugar no coração de Cristo separado para você, o qual ninguém pode preencher senão só você, e de onde ninguém jamais o pode tirar. Naquele seio reclinou-se o discípulo amado; naquele seio Estêvão, ao morrer, deitou a cabeça ensanguentada; e naquele seio você também, amado, pode repousar, na vida ou na morte, acalmado, socorrido e abrigado pelo seu Salvador e seu Senhor.

Sempre encostados assim em Jesus, quão doce há de ser o nosso cântico na noite da nossa peregrinação. “Bendito seja o Senhor, porque ouviu a voz das minhas súplicas. O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido; pelo que o meu coração salta de prazer, e com o meu canto o louvarei”. Salmo 28:5,6


Octavius Winslow

"Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto". João 15:5

Comunhão íntima com o Senhor Jesus precisa sempre preceder trabalho ativo por Ele. O segredo de fruto na vida nos é ensinado em Suas palavras seguras: "Permanecei em mim, e eu...em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto se não estiver na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim". Não é bastante gozarmos o privilégio de fazer o nosso serviço na presença do Salvador, não basta olharmos para Ele habitualmente em tudo o que a nossa mão acha para fazer, na dependência da Sua ajuda e bênção, não basta buscarmos em primeiro lugar a Sua aprovação; -- precisamos, dia, por dia, é da força que nos vem quando o coração, retirado dos cuidados do serviço para Ele, ocupa-se apenas dEle mesmo. O tempo do crente não é para ser devotado exclusivamente à execução ativa e prática da vontade do Salvador, mas também ao gozo da Sua presença. Se Ele descreve a Si mesmo como repousando em Seu amor e regozijando-Se nos Seus com canto (Sofonias 3:17), também nos manda amá-Lo de todo o nosso coração, e alma, e entendimento, e forças.

O Senhor Jesus quer é a nós. Em humildade e reverência podemos dizer isto. Ele nos pede: "Dá-me o teu coração". Ele Se deleita em ouvir a nossa voz em oração, e por isso nos manda derramar a nossa alma diante dEle. É Seu prazer falar conosco em Sua Palavra e pela voz mansa e delicada do. Seu Espírito em nossos corações. E, quando Ele fala, não faremos nós silêncio, para podermos ouvi-Lo? Este é o nosso serviço primeiro e mais feliz, o serviço de comunhão a sós com Ele. E, como Ele mesmo estabeleceu por Sua sábia providência, se isso for negligenciado, nada mais poderá prosperar.

Santidade interior precisa vir antes de utilidade exterior. O coração cuja chama de amor celeste está fraca não pode ativar a de outros; a mão cujo cântaro está vazio de águas vivas não pode refrescar outros espíritos sedentos. É o que nós somos, mais do que o que fazemos, que realmente determina a nossa capacidade de ser bênção. E é somente enquanto contemplamos a glória do Senhor que somos transformados na mesma imagem, pela poderosa operação do Seu Espírito.


Selecionado

Cristo fez tudo quanto Deus julgou necessário para garantir completo perdão, aceitação na presença divina e salvação a todos que viessem a crer no Seu santo nome. Recebendo a Jesus Cristo como Salvador, você construirá um edifício que há de durar por toda a eternidade. “Ninguém pode por outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”. 1 Coríntios 3:17

É Cristo a pedra fundamental da salvação, colocada pelo próprio Deus. E Deus manda que apoiemos a salvação da nossa alma somente sobre a perfeita obra expiatória de Cristo Jesus. De nada nos adiantará apoiar a salvação em alguma obra nossa. Nem sobre alguma emoção ou algo que sentimos.

É de total importância que compreendamos bem o fato glorioso da expiação consumada por Cristo na cruz do Calvário. Que apoiemos nesse fato a nossa salvação e não em mera emotividade religiosa ou sentimento religioso. A expiação efetuada por Cristo é a única base de nossa libertação da condenação e da ira que merecemos como pecadores; é a base da nossa paz com Deus.

Não é demais insistir neste ponto: cuide em apoiar a sua salvação unicamente na obra expiatória de Jesus Cristo. Guarde- se de baseá-la em seus próprios sentimentos religiosos, suas lágrimas, penitências, deveres eclesiásticos, boas resoluções. Você deve começar recebendo a Cristo como seu Salvador pessoal, sem fazer que esse ato dependa de tentativas de melhora de vida e conduta.

Cristo precisa ser o princípio e o fim da sua salvação. Cristo, e Cristo Somente.


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